“Tua voz
rouca anunciava o que mais parecia ser o final de algo que estava
prestes à começar. Antes mesmo de tudo começar, chegamos ao nosso fim.
Chegamos ao nosso trágico fim. O que era para ser mais uma tarde, foi a
tarde. A tarde que deu tudo errado. O Sol desabrochava no céu azul e eu
segurei forte tua mão e corremos até o mar. Na beira da praia, seguramos
nossos chinelos e corremos até o mar. Imensidão azul. Imensidão azul ao
nosso alcance. Entramos no mar de roupa e tudo. Nadamos por todos os
lados e ninguém reclamou. Sem apito de salva-vida para sair da área de
perigo e sem tia gorda reclamando que estávamos estragando a foto da
família dela - que por sinal, também era gorda. Saímos do mar
encharcados e resolvemos caminhar pela praia. Esperamos nossas roupas
secarem enquanto tomávamos um sorvete. Se pegássemos um resfriado,
tínhamos um ao outro para cuidar do outro. Tudo corria perfeitamente
bem. Você com seu sorvete de chocolate e eu com o meu de limão.
Parcialmente secos e descansados, resolvemos correr mais um pouco.
Segurei tua mão o mais forte possível pois eu sentia um vento gelado
batendo em meus cabelos molhados e sentia um aperto no peito. Algo ruim
estava por vir. Eu segurava tua mão então estava tudo bem. Corremos por
um caminho que eu não conhecia. Conforme minhas longas passadas, eu
ficava cada vez mais fraco. Corremos em linha reta, em círculos, em
zigue-zague, em diagonal. Corremos. Chegamos então ao ponto final.
Estávamos à beira de um abismo que na verdade, sempre esteve abaixo de
nossos narizes. Estávamos à beira do nosso abismo. Tudo enfraquecera.
Meus ossos pareciam papel e você era como se fosse uma pena prestes à
planar por aí. Me destes um beijo doce. Senti algo de diferente no doce
do teu beijo. Senti um doce meio-amargo. E foi então que a pena planou.
Aquele vento gelado que eu sentia aumentara. Você não aguentou e, da
beira do abismo, caiu. Gritei por teu nome, e por conta do eco, fui
capaz de ouvir as últimas letras matutando em minha mente. Pensei em me
jogar também, mas pensei que tudo fosse questão de férias. Eu precisava
de umas férias para o meu coração. E como num jogo de futebol, ocorreu a
substituição. Saiu Amor, entrou Melancolia com codinome Saudade. Mal eu
sabia que coração não tira férias, e que o jogo de futebol do coração
não dura noventa minutos e sim, uma vida inteira. Mal eu sabia que
estávamos tão próximos do fim.”
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